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História da África e Cultura Afro-Brasileira



 Sabe-se que para entender o Brasil no que tange as diversidades culturais não é fácil, a velha migração e o tráfico negreiro juntaram num mesmo território geográfico descendentes de povos, etnias e culturas diversas. E é exatamente esse caldo cultural que hoje forma essa nação que chamamos de Brasil, que desde sua origem essa diversidade vem tentando se encaixar nesse território buscando sua identidade; uma vez que problemas como xenofobia, o racismo, intolerâncias e demais males ainda existe com raízes muito profundas nessa nação. 

Para tentar sanar ou amenizar tais problemas, as classes que sofrem preconceitos juntamente com outras classes que se solidarizam com esses grupos, tem lutado para que haja o reconhecimento da diversidade cultural presente desde os seus primórdios, com o fim de que assim, todos sejam aceitos como iguais assim como determina a Constituição de 1988. 

Até o ano de 2001 se vivia no Brasil como um país modelo de democracia racial, se pensava que racismo nunca existira, mas foi com a III Conferência Mundial da ONU que debatia sobre o racismo, a discriminação racial, a xenofobia, a intolerância, e a Conferência de Durban, que a máscara do Brasil caiu, e tudo se tornou muito claro e evidente: que o Brasil é um país extremamente racista e que democracia racial jamais existiu. 

Esse falso ideal de democracia racial só atrasou a busca por direitos dos povos negros e indígenas que por muito tempo ficaram sem amparo legal, uma vez que achavam não ser necessário criar leis sendo o Brasil um país sem racismo.

Na luta pelos direitos raciais pode-se destacar o Movimento Negro, que no século XIX, inspirados nos movimentos Black norte americano, tem buscado melhorias no trato com as relações étnicos-raciais no país. Pode-se até imaginar que pelo o fato dos movimentos negros se inspirarem nos americanos, os brasileiros obtenham ajudas internacionais, mas no Brasil não é assim; até o presente momento, as conquistas no Brasil foram relegadas aos Movimentos Negros aqui existentes. Mesmo com a conquista da Lei 10.639/03, o movimento negro vem lutando incansavelmente por melhorias, uma vez que essa tem existência no papel, mas não há uma ação efetiva da mesma.

Mas para chegarmos a essa atmosfera de lutas, de busca pelo reconhecimento, por direito de igualdade, dentre outros direitos, tem um pano de fundo que forjou tudo isso. E essa ideia é de origem européia, sendo que esse pensamento surge com Hegel, que fazendo um estudo sobre a história da África, afirmava que os africanos não tinham história, não eram capazes de formar uma cultura histórica por não pensar como os europeus, por serem diferentes.

Essa ideia preconceituosa se espalhou por séculos chegando até a atualidade, mesmo havendo pensadores que tempo depois descordaram de Hegel, como Leo Frobenius, Maurice Delafosse e Arturo Labriola.  O darwinismo no seculo XIX também contribuiu fortemente para aumentar o preconceito contra os africanos, pois dizia com o seu determinismo racial que aquele povo era infantis, primitivos, tribais, incapazes de aprender ou evoluir, precisando dessa forma da tutela europeia.

Além da lei acima citada, temos ainda a Lei Áurea promulgada em 13 de maio de 1888, que foi posta como um ato de benevolência da elite brasileira, negando o real motivo pela qual foi sancionada, uma vez que essa lei foi mais uma vitória conquistada pelas classes excluídas de seus direitos. Essas conquistas tem que ser valorizadas e dá o prêmio a quem realmente conquistou. Sabe-se que ainda hoje se usa a Lei Áurea como um enaltecimento do período com sua política e classe elitista, usando qualidades depreciativas aos nativos e aos escravizados como preguiçosos, libidinosos, vagabundos, desleais e etc.

Como uma forma de justificar a escravidão dando a ela um caráter civilizador, nas narrativas da história oficial não se vê o uso de termos como violência, trabalho forçado e pobreza. E porque estes termos são ocultados? A história oficial tem como pretensão justificar que a escravidão era um ato civilizador e por isso, positivo. Mas sabemos que o fim por trás era a obtenção de capital, estando o lucro acima da vida humana, sendo a pessoa do escravizado um meio mais fácil de obter renda. E no Brasil pode-se citar a IHGB, que como responsável pelo levantamento histórico, soube selecionar muito bem os interesses da elite brasileira.

Sendo a história africana escrita pelos europeus, muitas coisas foram negadas ou ocultadas, entre elas podemos citar da cultura as práticas de culinárias, agrárias, medicamentos da farmacopeia, organizações políticas, produções artísticas, celebrações religiosas, códigos de etiquetas e etc. Com isso se percebe que havia uma cultura bem diversificada na áfrica, um povo com organização complexa, sendo negligenciada pelos europeus.

Para reescrever a história com olhar africano, muitos filhos da África se puseram com essa missão, se colocando na responsabilidade de reescrever uma história com um prisma totalmente diferente do até então posto pelos europeus. Foi o que aconteceu a partir de 1947 com a sociedade africana chamada de Societe Africaine de Culture e Revista Présence Africaine, onde se propuseram relatar uma história de cunho africano, tirando a visão de heroísmo europeu e dando a eles uma nova perspectiva, como cruéis exploradores.

Enfim, sabemos que a luta pelas relações étnico-raciais tende a perdurar por mais tempo, pois assim tem sido, uma vez que não se muda a política ou a mentalidade das pessoas de uma hora para outra, se trata de uma construção e isso leva muito tempo. Mas nós podemos fazer parte dessa construção, ou melhor dizendo, dessa reconstrução, pois precisamos reconstruir nossa história, ainda estamos nos olhando com o olhar do europeu, precisamos colocar nossos próprios óculos para enxergar a nós mesmos. A compreensão da diversidade racial no nosso país já pode ser considerado como meio passo andado para a convivência de uma boa relação ético-cultural.

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