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Metodologia da História: debate historiográfico

 

O método designa as ações ordenadas que devem ser realizadas para que algum objetivo previamente estabelecido seja atingido, ou seja, como os meios de que dispõe a ciência para propor problemas verificáveis e para submeter à prova ou a verificação as soluções que forem propostas a tais problemas. Vale a pena destacar duas diferenças importantes para compreendermos melhor o Método e a Teoria: deve-se ter sempre em vista que teoria e método são coisas bem distintas, da mesma maneira que ver e fazer são atitudes verbais e práticas bem diferentes, embora possam se interpenetrar.

A interdisciplinaridade na pesquisa histórica impôs a redefinição dos campos de saber que foram delimitados no século XIX, concluía-se a impossibilidade de uma neutralidade metodológica pregada neste período; A admissão que o método não é neutro, de que o sujeito constrói o conhecimento e de que não há uma objetividade pura tem levado, até mais longe, revalorizando-se a subjetividade em seu sentido mais amplo. Assim, assinala-se que nem tudo na pesquisa histórica é estritamente racional, que muitas vezes o historiador deve apelar para as sua intuição e sua imaginação.

Quanto a definição de Teoria, é o modo de pensar como forma de ver o mundo, visão de mundo para compreender os fenômenos que estão sendo estudados; remetendo aos conceitos e categorias utilizados para reflexão da realidade examinada. É uma visão sobre o campo de conhecimento que se está inserido, uma forma de como se concebe um objeto de investigação a partir de dispositivos teóricos diversos, e como o pesquisador enxerga sua própria disciplina ou ofício.

Já a Metodologia, é a forma de trabalhar algo como modo de fazer, remetendo-se às ações concretas, com o objetivo de resolver um problema por via do enfrentamento de ações concretas apresentadas pela pesquisa, tendo em vista aspectos práticos, procedimentos padronizados, técnicas de precisão, etc.; procedimentos metodológicos podem ser vasto, tendo inúmeras possibilidades.

A partir do século XX verifica-se uma ampliação das possibilidades no uso da fonte histórica, o historiador pode utilizar qualquer texto como fonte histórica, por exemplo, o diário de uma jovem desconhecida, uma obra de alta literatura ou da literatura de cordel, as atas de reunião de um clube, as notícias de jornal, as propagandas de uma revista, as letras de música, ou até mesmo uma simples receita de bolo. Não há mais limites para os tipos de textos que podem servir como materiais para o historiador.

Vejamos uma definição de fonte histórica: é aquilo que coloca o historiador diretamente em contato com o seu problema. Ela é material através do qual o historiador examina ou analisa uma sociedade humana no tempo. A Semiótica Textual se interessa pela significação de todas as formas de linguagem, contemplando aspectos externos e internos, por meio do fenômeno perceptivos.

Definindo o campo da História Serial: refere-se a um tipo de tratamento das fontes. Trata-se nesse caso de abordar fontes com algum nível de homogeneidade, e que se abram para a possibilidade de quantificar ou de serializar as informações ali perceptíveis no intuito de identificar regularidades. 

Com o objetivo de superar a influência do positivismo do século XIX, a historiografia passou a valorizar cada vez mais a dimensão histórica textual como discurso, não mais apenas como testemunho. Na possibilidade de analisar um discurso podemos usar as abordagens qualitativa; abordagem quantitativa; abordagem serial. A análise qualitativa de um texto deve priorizar aquilo que está exposto além da superfície do texto, alguns profissionais utilizam a semiótica para analisar a fonte histórica textual.

A análise de uma um discurso feito pelo historiador deve ser contemplado três dimensões fundamentais, o intratexto, o intertexto e o contexto. Intratexto refere-se aos aspectos internos do texto e implica exclusivamente na avaliação do texto como objeto de significação. Intertexto, é o relacionamento de um texto com outros textos. já o contexto é a relação do texto com a realidade que o produziu e que o envolve.

Todo texto é produzido em um lugar que é definido não apenas por um autor, pelo seu estilo e pela própria história de vida deste autor, mas principalmente por uma sociedade que o envolve, pelas dimensões desta sociedade que penetram no autor, e através dele no texto, sem que disto ele se aperceba.

Diversas técnicas podem ser utilizadas para análise do texto. No entanto, algumas etapas são fundamentais no uso de fontes textuais, como a procedência da fonte, inserção em uma sociedade mais ampla, condições de produção da fonte e ainda, análise interna do texto, o conteúdo de um texto. Com isso, cedo aprende o historiador que não pode se resumir à superfície de sua mensagem. Há os entreditos, os interditos, os não-ditos, o vocabulário revelador. Se o texto é falso, ou se ele mente, tanto melhor, pois o historiador poderá perguntar: por que mentes?

A história serial foi considerada uma modalidade revolucionária na historiografia do século XX. No lugar das fontes habituais (documentos administrativos, etc.) interpretadas a partir de uma abordagem qualitativa, a história serial inaugurou uma nova forma no trato com as fontes históricas, tais como: compor “séries” de fontes e novas técnicas para abordar esse conjunto documental.

E como questão norteadora podemos questionar, quais tipos de fontes podemos serializar? a resposta seria jornais, registros de óbitos/nascimentos, testamentos, iconografia e outras. 

A partir do século XX, verificamos uma ampliação dos domínios no âmbito do saber historiográfico em consonância com o emudecimento da disciplina História. Torna-se visível o alargamento do universo da pesquisa, ou seja, enfoques, métodos e temas para o profissional da história. 

Para além das modalidades relacionadas a dimensões e abordagens, podemos pensar finalmente nas divisões da História que chamaremos de domínios, e que se referem a campos temáticos privilegiados pelos historiadores. Vários domínios da História têm surgido e mesmo desaparecido no horizonte de saber desta complexa disciplina que é a História. Estaremos falando de domínios quando nos referimos a uma História da Mulher, a uma História do Direito, a uma História de Sexualidade, a uma História Rural.

Os domínios podem ser múltiplos e variados, considerando que se referem aos agentes históricos examinados pelo pesquisador. Aprendemos como os domínios históricos podem ser diversos e profusos, dependendo do contexto historiográfico e do interesse dos historiadores profissionais. Mas existem domínios mais antigos, por exemplo, a História da Religião, a História Militar.

A polêmica em torno da História da Biografia marcou a historiografia moderna e contemporânea. O gênero, que foi muito utilizado no século XIX, passou a ser rejeitado por muitos historiadores profissionais na primeira década do século XX. Mas, a partir das últimas décadas, os pesquisadores voltaram a se interessar pelo gênero. Nesse novo contexto de produção do saber historiográfico, a mudança foi significativa em torno dos sujeitos biografados.

Agora os mais variados sujeitos históricos merecem ser biografados: não apenas os heróis e as grandes individualidades políticas, mas também os indivíduos anônimos que jamais sairiam dos arquivos empoeirados se de lá não os tivessem arrancado dos historiadores um moleiro herético, um padre exorcista em segundo plano, um impostor que se faz passar por um marido desaparecido até ser desmarcado., e que carrega em sua própria vida um enredo tão novelesco que se tornou matéria prima para uma produção cinematográfica. 

Após refletirmos algumas das características, talvez ainda despontem dúvidas sobre a importância da Biografia para o saber historiográfico; não se trata de estudar qualquer pessoa por qualquer motivo. Estuda-se através de uma vida com vistas a enxergar mais longe, mais profundo, mais densamente, de maneira mais complexa, ou porque o estudo desta vida com vista a enxergar a vida social em sua dinamicidade própria, não excluindo os seus aspectos caóticos e contraditórios. 

O indivíduo qualquer é um qualquer cuidadosamente escolhido. Escolhemo-lo porque ele nos dá acesso aos problemas que nos interessam, ou porque as fontes em torno deste indivíduo concentram-se de uma determinada maneira. Podemos estuda-lo por ele ser demasiadamente comum ou por ele estranhamente incomum, não importa. As perguntas que faremos a esta ou àquela vida é que nos dirão se a escolha é menos ou mais adequada.

Refletir sobre o domínio História das Mulheres significa ampliar o campo de trabalho de historiadores ou historiadoras profissionais, expondo relações de poder e saber no âmbito das relações entre homens e mulheres na historiografia, tanto como produtores de saberes, quanto na condição de agentes históricos.


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