Quando se aborda o tema sobre a África a primeira imagem que nos vem a cabeça é que se trata de um país muito pobre, com muitas pessoas doentes e famintas, e muitos animais vivendo em parque protegidos. Já mais passa por nossas mentes que na realidade se trata de um continente com muita história e riquezas, culturais e financeiras.
E quanto ao Saara, ao contrário do que se pensou durante muito tempo, ele não é uma área morta, que isola os povos que o habitam do restante do mundo. Na verdade, ao longo da história africana, o Saara foi um eixo de articulação entre aqueles, as savanas e as florestas, situados abaixo dele, e os povos das margens do Mediterrâneo.
Desde a Antiguidade, o norte da África manteve relações político-econômicas com o mundo extra-africano. Essas relações dizem respeito a um comércio regular feito por caravanas, através do deserto, em busca de ouro e marfim, do qual participaram primeiro mercadores fenícios, e depois mercadores romanos.
No começo, Gana era o título atribuído ao governante que impunha sua soberania aos povos dominados. Quanto ao Gana, sua legitimidade provinha do fato de ser o representante maior dos costumes ancestrais e o protetor dos ritos dedicados às entidades de culto. O período de esplendor de Gana situa-se após o ano de 790, quando o poder esteve sob o controle de uma dinastia fundada por Kaya Maghan Cissê, a dinastia dos Cissê Tunkara. Ao que tudo indica, a sucessão se fazia não em linha masculina, mas em linha feminina, prevalecendo o costume da matrilinearidade, com os sobrinhos sucedendo aos tios.
A base econômica de poder era a tributação imposta aos povos vencidos ou que reconheciam sua hegemonia, e a tributação imposta aos produtos que circulavam nos domínios sob sua influência. Além das atividades de subsistência associadas à agricultura, pesca e pecuária, um contínuo fluxo comercial articulava os negociantes saarianos e subsaarianos. A hegemonia de Gana era disputada pelos povos berberes e pelos tuaregues do Saara, que pretendiam assumir o controle das rotas transaarianas. Do ponto de vista militar, Gana dispunha de um poderoso exército formado pelos povos subjugados ou aliados, composto de arqueiros e lanceiros. Dizem os cronistas e viajantes que o número de guerreiros era algo em torno de 200 mil indivíduos, número que carecem de fontes para ser comprovado, mas serve como referência do potencial militar colocado à disposição dos governantes.
O declínio de Gana ocorreu a partir da segunda metade do século XI e está associado à sua derrota diante das tropas de cavaleiros e cameleiros muçulmanos provenientes do Marrocos, em luta contra os "infiéis" e pagãos, entre os quais os negros idólatras de Gana.
O antigo Mali foi criado por diversos povos aparentados que viviam na região situada entre o rio Senegal e o rio Níger. A hegemonia do Mali se estendia por toda a África Ocidental e se devia a diversos fatores: do ponto de vista militar , controlava um poderoso exército composto de arqueiros, lanceiros e cavaleiros; do ponto de vista econômico, controlava as áreas de extração do ouro, que lhe garantiu posição de destaque na circulação das caravanas transaarianas; do ponto de vista político, criou e manteve uma estrutura administrativa eficiente, com representantes nas áreas sob domínio mandinga, chamados farba, e jurisconsultos e homens da lei, chamados cadi.
Integrado por diversos povos além dos mandingas, como os soninkês, fulas, dogons, sossos e bozos, o Mali evoluiu para uma condição que o aproximava de um império, na medida em que exercia sua hegemonia, impondo-se militarmente, e extraía tributos dos povos vencidos. A partir da segunda metade do século XIV, o império do Mali entrou num lento processo de enfraquecimento, devido às dificuldades de manter por muito tempo área de influência tão vasta.
A expansão militar e formação do "império" songai ocorreu na segunda metade do século XV e deveu-se ao extraordinário processo de expansão militar liderado pelo conquistador Sonni Ali (1464-1493), lembrado pelo nome de Ali Ber (o Grande). Com um comércio bem organizado e um sistema de governo mais coeso do que os Estados que o antecederam, o Estado Songai alcançou uma extensão territorial que integrava o litoral atlântico, o sul do Saara, o Sahel, as savanas e se estendia na direção a leste. Mas a soberania do Estado Songai era ameaçada por povos vizinhos, como os mossis, e pelos sultões do Marrocos, que lhe disputavam o controle das rotas do comércio transaariano e das preciosas minas de sal.
A crescente rivalidade tinha como foco principal as minas de Tagaza, que eram as mais importantes. Foi esse o motivo pelo qual, após diversas escaramuças, os marroquinos organizaram um poderoso exército, em 1591, que dispunha de uma inovação técnica: a presença de armas de fogo, de arcabuzes comprados dos europeus, que definiram a derrota dos guerreiros Songai.
Politicamente, os huaças se organizavam em cidades-estados parcialmente independentes. Algumas dessas cidades-estados apresentavam uma particularidade digna de nota: os governantes eram eleitos por um conselho de notáveis, e o poder efetivo cabia a uma espécie de primeiro ministro ou vizir, o galadima, que atuava junto com os chefes dos guerreiros, os líderes religiosos muçulmanos (cádis) e os jurisconsultos, além do pessoal do palácio.
O Islã começou a ser implantado nas cortes dos governantes hauçá e se refletiu a partir dos séculos XIV e XV no estilo de vestimenta adotado pela população e no uso do véu pelas mulheres. Do ponto de vista de sua estruturação, encontravam-se articuladas perfeitamente bem com as aldeias que as circundavam, e suas fortalezas e habitações maiores funcionavam como pontos de defesa. A maior e mais importante delas, Kano, rivalizava com a cidade de Gao, do Songai, e era ponto de passagem obrigatório de caravaneiros, religiosos e sábios, como o erudito de Tombuctu El Hadj Ahmed, que nela permaneceu alguns dias durante sua peregrinação à Meca, em 1485. Ao que tudo indica, o islã foi introduzido no século XI entre a elite do reino pelas vias do comércio transaariano.
Enfim, como vimos, a história da África está recheada de grandes fatos históricos, que permite vermos como esse continente tem muito a nos ensinar, com suas diversas formas de riquezas e diversidades culturais.
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